
Lições que aprendi com a Rebeca em 31 anos de convivência
São 31 anos convivendo com a Rebeca. Os primeiros anos dela como irmã, e a partir de seus 4 anos como sua mãe. Ser a responsável de uma pessoa com deficiência, é uma oportunidade brutal de aprender muita coisa, de ver o mundo, as pessoas e as relações a partir de uma nova perspectiva. Com certeza, ainda aprenderei muito, mas hoje faço uma avaliação de quanto a convivência me provoca a ser uma pessoa melhor e querer um mundo mais humano e justo para ela e todos os outros.
1. A Importância da Comunicação Clara
Aprendemos a valorizar outras formas de comunicação, como linguagem de sinais, leitura labial, gestos, expressões faciais e até mesmo a escrita. E sem falar, em ser mais paciente (desafio diário) e atenta para garantir que nossa mensagem seja compreendida.
2. Empatia e Respeito às Diferenças
Convivendo com uma pessoa surda, percebemos como é importante respeitar o ritmo e as necessidades dos outros. Me torno diariamente um a pessoa muito mais sensível as necessidades de todos, já que cada um de nos, tem algum tipo de necessidade especial. Tem alguém normal ai?
3. Adaptabilidade
Entendi a necessidade de ajustar ambientes e comportamentos para torná-los mais inclusivos. Isso pode incluir tecnologias assistivas, como aparelhos auditivos ou legendas em qualquer programa da televisão (inclusive em filmes brasileiros), além de atitudes mais colaborativas. A criar ambientes que facilitam esta convivência, com espaços mais amplos para que todos possam se olhar e fazer a leitura labial, perceber as expressões faciais.
4. A Valorização da Escuta Ativa
A comunicação com uma pessoa surda nos incentiva a estar realmente presentes na conversa, usando atenção total para entender o que está sendo transmitido. Aqui não vale conversar enquanto digito no computador.
5. Superação e Resiliência
Pessoas com deficiência auditiva muitas vezes enfrentam desafios significativos, mas demonstram incrível força e criatividade para superá-los, o que serve de inspiração.
6. Valorização da Diversidade Linguística e Cultural
Ao conviver com alguém que utiliza a Língua Brasileira de Sinais (Libras) ou a American Sign Language (ASL), por exemplo, percebi a riqueza dessas línguas e culturas, e o quanto é dificílimo aprender a língua materna dela.
7. Atenção ao Ambiente Inclusivo
Aprendemos a ser mais proativos em criar espaços acessíveis e igualitários, seja no trabalho, na escola ou em casa. A me esforçar para incluí-la nas conversas e me preocupar em oferecer a ela mais explicações de tudo.
8. Políticas Pública
Ainda temos que lutar muito pelos direitos das pessoas com deficiências. Nossa política publica já avançou muito, mas ainda falta muito para garantir o mínimo e, especialmente, para “educar” uma sociedade a ser mais empática.
9. Falsa Lei de Cotas para Pessoas com Deficiência (8.213/91)
A Lei existe e obriga as empresas com mais de 100 funcionários a contratar funcionários PCD, mas poucas empresas estão preparadas. Não basta ter a vaga para cumprir a legislação, é preciso ter comprometimento com o desenvolvimento deles e suporte para o aprendizado.
Essa convivência com a Bebeca, me transforma; e me faz ser muito intolerante àqueles que se acham melhor do que os outros e não tem empatia com as pessoas, especialmente, com qualquer pessoa que precisa da nossa ajuda por alguma razão especial.