Curso visa fortalecer as bases da família empresária

Curso visa fortalecer as bases da família empresária

A literatura é pródiga em casos de empresas consideradas grandes e organizadas que sucumbiram durante um processo de sucessão tumultuado ou mal feito. A condução de uma empresa familiar não é responsabilidade só daqueles que estão no dia a dia da gestão. Ela deve ser pensada e, também, contar com a colaboração de todos aqueles que fazem parte da família. Ter o sobrenome não é suficiente para fazer de um herdeiro um bom acionista. É necessário compreender o significado deste papel, seus direitos, deveres e responsabilidades para contribuir com a perpetuidade dos negócios familiares.

É para transformar herdeiros em acionistas e a família empresária em família empreendedora que surge, em Belo Horizonte, o Programa de Formação da Família Empresária (PPFE). Comandado pela sócia da Kfamily Business / Kienbaum e consultora para famílias empresárias, Juliana Costa Gonçalves, a iniciativa traz disciplinas como finanças, governança familiar, acordo de acionistas, governança empresarial, entre outros.

A primeira turma terá início na segunda quinzena de outubro, com aulas mensais em uma sexta ao longo do dia e sábado no período da manhã, durante um ano, totalizando 144 horas de encontros presenciais e mais 20 virtuais. O curso será ministrado no espaço de eventos corporativos do hotel Mercure Belo Horizonte Vila da Serra, em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH).

Com 14 anos de experiência na formação de famílias empresárias, a consultora destaca que é triste pensar que apenas 4% das empresas familiares chegam à quarta geração, seja por extinção ou porque não pertencem mais à família fundadora.

“A grande questão dessas empresas é que tem emoções envolvidas no negócio: os conflitos, traumas, amores, ciúmes da esfera familiar. Digo que a empresa começa com sócios que se escolheram, mas a partir da segunda geração aquelas pessoas estão ali por circunstâncias, não por escolha, então é preciso lidar com sentimentos que antes estavam apenas na esfera familiar. Por isso é tão importante que elas se preparem. Para ter êxito, uma família empresária precisa ter maturidade, coesão, propósito e uma linguagem comum. Todos devem entender quais são seus direitos, deveres e responsabilidades. O tempo de duração do programa é o tempo de desenvolvimento da maturidade, de decantação do conhecimento. É importante lembrar que não é um trabalho de consultoria”, explica Juliana Costa Gonçalves.

Segundo dados da pesquisa “Retratos de Família: Um panorama das práticas de governança corporativa e perspectivas das empresas familiares brasileiras”, publicada este ano e conduzida pelo ACI Institute e Board Leadership Center da KPMG , no Brasil, 22% dos empreendimentos analisados já têm membros da terceira geração da família controladora atuando no negócio e 41% deles contam com a participação de membros da segunda geração.

Para o professor Paulo Colafero, que ministra a disciplina “Family Officer”, o curso vem no sentido de ajudar as famílias nessa transição de uma geração para a outra, exigindo vontade e disciplina.

“Muitas vezes os fundadores têm muita capacidade de construir o negócio, sabem o valor do dinheiro, sabem vender, comprar, contratar, mas filhos e netos vivem outra realidade. Muita gente acha que para fazer a transição basta contratar um bom advogado, mas não é verdade. Geralmente as famílias crescem mais que o patrimônio. Muito do que fazemos é para conscientizar a família evitando que as discussões acabem na mesa de almoço de domingo. Todo processo de preparação de sucessão precisa de tempo”, explica Colafero.

No campo da governança familiar, a psicóloga peruana Francis Valverde se vale de muita delicadeza para compreender e apontar nuances na relação família-empresa que vão além do contrato social.

“O contrato social não dá conta da complexidade dessa relação e, por isso, é necessário fazer o acordo de sócios estruturado por um advogado. As famílias empresárias constituem o protocolo do conselho de família, que não precisa ter viés jurídico. É um documento de valor moral. É um combinado para organizar a estrutura da família. Trabalho a disciplina através de cases e construímos um modelo do estatuto. A família tem que investir na sua educação como família empresária. Mesmo os que não estão na gestão têm que participar das decisões. É necessário uma delicadeza para tratar desses temas”, destaca Francis Valverde.

Envolvimento

Professor de Finanças, Agostinho Rocha Sant’ana aponta que mesmo quando um membro da família não se interessa pela empresa ou quer sair da sociedade, ele deve estar inteirado sobre o funcionamento e as estratégias da empresa para que essa decisão seja assertiva para ele mesmo, o negócio e toda a família.

A ideia não é que todos se tornem especialistas em tudo, mas que saibam ler as informações disponíveis e ajudar a tomar as melhores decisões.

“Quando uma empresa é criada, toda família acaba sendo envolvida. Mesmo aqueles herdeiros que não participam diretamente do dia a dia do negócio, têm responsabilidades. Por isso todos precisam de alguma preparação, porque o nome dessa pessoa está envolvido. É fundamental entender como a empresa funciona, o que está acontecendo dentro da empresa, como ela está estruturada. Na disciplina de finanças, queremos apresentar elementos que são relevantes, de forma simples e objetiva, para que ela acompanhe os indicadores da empresa. É preciso desmistificar a parte financeira. O volume de informação e a velocidade aumentaram muito nos últimos tempos e é preciso estar informado para tomar decisões assertivas. Já acompanhei muitas histórias e dá dó ver empresas que eram bem estruturadas e que entraram em declínio por falta de qualificação dos herdeiros”, analisa Sant’ana.

Acordo de acionistas

E é por isso que o acordo de acionistas é tão importante. Segundo o professor Rafael Lacerda, o acordo é um combinado formal de caráter privado. A grande utilidade do documento é dar as diretrizes para a condução de uma transição, evitando conflitos por falta de previsibilidade.

“Todo empreendedor deseja a perpetuidade do negócio. Esse programa vem para mostrar como perpetuar as empresas. A qualificação é importante mesmo que depois nem seja a família a tocar o negócio e chamem um executivo de mercado. E os herdeiros vão participar do conselho. As famílias costumam ter seus combinados feitos na mesa de jantar. Eles não têm valor jurídico e na hora de um conflito isso vem à tona. Temas como receber novos sócios, formas de pagamento, saída da sociedade, por exemplo, são muito delicados. Existe uma interseção entre família e negócio. É natural que se misturem, por isso é preciso ter regras. É importante lembrar que os combinados são mutáveis e os acordos podem ser modificados ao longo do tempo”, completa Lacerda.

O evento de lançamento do PPFE acontece hoje e as inscrições gratuitas podem ser feitas pelo link. Informações e inscrições para o Programa estão disponíveis no site.

Fonte: https://diariodocomercio.com.br/negocios/curso-visa-fortalecer-as-bases-da-familia-empresaria/

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